Página de estreias

OS POETAS
Um foi sustentado pela mãe a vida inteira
e escreveu poemas de ódio contra a família
O outro passou várias temporadas em manicômios
era fumante inveterado e tinha muita lucidez quando escrevia
Aquela era também doida e escrevia versos sobre a vertigem
enquanto fazia crochê para sobreviver
Um era do partido comunista, foi preso várias vezes
e escreveu na prisão poemas de amor para Vera
O outro também era comunista e morava numa negra ilha,
onde teve um ataque fulminante do coração
Carlos era funcionário público(argh!)
O menino escreveu versos furiosos quando tinha 17 anos
depois foi ser traficante de armas na África
Tinha outro que corria nu pelas alamedas floridas da ilusão
e tomava ácido lisérgico em praias desertas
Outro deu um tiro no coração, esperando ser ressuscitado no futuro
Um que morava na Grécia antiga foi laureado com uma coroa de loros
que serviu como tempero para uma feijoada com os amigos
E teve até uma polonesa que recebeu um Nobel de literatura
e também fumava sem parar e morava num quartinho acanhado
abarrotado de livros e solidão
Um outro morou no Brooklin, como eu, que morou aqui a vida inteira...
Todos eles escreveram versos
Versos que não serviram para nada
Versos que não salvaram ninguém, nem eles mesmos...
Paulo Mohylovski
Paulo Mohylovski
Nascido em São Paulo em 1962, onde sempre morou. Escreve peças de teatro e tem um pequeno reconhecimento nesta área. Sua peça SUICIDAS ANÔNIMOS já foi montada em várias cidades brasileiras; duas vezes em Portugal; tem uma montagem sendo preparada em Angola e já deu origem a três filmes de curta-metragem, sendo um deles feito por alunos de teatro também de Portugal. Quanto aos seus poemas, nunca foram divulgados em livro. Apesar do tom provocativo dos poemas que envia. Tem amor pleno e total pela poesia.

Lucas Vancamp
Lucas Vancamp
Triste fotografia
Sou feito de retalhos, Deus
Sou uma triste fotografia
Carregada de esperanças reais
Sei que já pedi demais
Mas me perdoa mais uma vez
Está difícil caminhar
Me empreste Seus pés
Duvido que eu não vença
Sou uma triste fotografia
Congelada numa passado cruel
De dor e loucura
Já trilhei no vale da morte
Mas obrigado por me salvar de lá
Querido Senhor dos senhores
Prefiro ficar nos Seus pés, afinal
Querido Deus, meu Paraíso é onde você está
Sou feito de retalhos, Deus
Uma triste fotografia
Não sei como escolher o que é melhor pra mim
Pode fazer isso por mim?
Quero te dedicar tudo de mim
OLHAI OS LÍRIOS DOS CAMPOS
(Nadia Celestina Bagatoli)
Olhai os lírios do campo;
Olhai como são belas,
Olhai as montanhas,
Os vales e os campos.
Tudo foi feito maravilhosamente;
Deus fez tudo em seu devido lugar,
Então viu que sua obra é perfeita,
Peixes, animais, monstros marinhos.
Olhai os lírios do campo;
Como estão floridos ,
Em plena estação,
Veja, o campo é imenso.
Olhai! O mar, pássaros, que voam com avidez;
Completamente é tudo, a razão de tudo,
Olhai, as flores e cheiros de todas as espécies,
Os olhos vêem que tudo é lindo, perfeito e bom.

Ando sobre as areias da praia
tão solitário quanto o mar,
que quer se aproximar.
No peito o efeito do vento,
e no coração
o defeito de uma paixão;
sento-me em uma rocha
à observar o mar,
e começo a chorar
ao me lembrar de você.
A rocha é forte e resistente,
bem diferente de nosso amor,
que tão cedo acabou.
Minhas lágrimas,
misturam-se com as águas do mar
e evaporam pelo ar...
meu choro virou torrente
que cai em seu teto,
e você nem mesmo
se consente que te amo.
Areias da Praia...
Santos Filho
